UC Berkeley Press Release

20/03/2008 - 23:18 | Edição nº 514

O futuro da neuropsiquiatria

 

O neurologista brasileiro Felipe Fregni, professor da Universidade Harvard, diz que as estimulações cerebrais são os maiores avanços para tratamento de doenças neurológicas e psiquiátricas

 

 

ÉPOCA - Por que a neuroestimulação está sendo considerada pelos especialistas como um grande avanço?

Felipe Fregni - Sempre foi um desafio para a medicina encontrar um tratamento neuropsiquiátrico que pudesse normalizar a atividade cerebral que está em desequilíbrio, sem afetar outras funções do cérebro e que não atingisse o organismo. A neuroestimulação mostra que é possível restabelecer com sucesso as funções cerebrais.

 

ÉPOCA - É melhor que o tratamento com medicamentos?

Fregni - É diferente. A neuroestimulação é indicada em casos de pacientes graves e resistentes aos medicamentos. Corresponde a uma parcela de 20% dos pacientes. A terapia convencional continua sendo feita com remédios. O problema dos remédios é que eles atingem o corpo e a atividade cerebral de uma forma global. Interferem em outras funções do organismo e não corrigem o problema específico. O resultado são efeitos colaterais como vômitos, tonturas, ganho de peso. Pode inclusive diminuir o funcionamento de áreas normais do cérebro e prejudicar o aprendizado, a memória e atividades motoras.

 

ÉPOCA - Então, por que não submeter todos os pacientes à neuroestimulação em vez de receitar medicamentos?

Fregni - Teoricamente, seria o melhor. Mas ainda não temos estudos suficientes para saber quais serão os resultados a longo prazo. Precisamos de mais dados para comprovar eficácia e segurança antes de substituir os medicamentos em todos os casos.

 

ÉPOCA - O tratamento funciona para todos os pacientes resistentes a medicamentos?

Fregni - A resposta é boa em até 70% dos casos. O desafio agora é entender por qual motivo alguns pacientes respondem bem e outros não melhoram nem com a neuroestimulação. Ainda não conseguimos identificar como maximizar o tratamento para todos os pacientes. Talvez unir a estimulação a outras terapias - meditação, psicoterapia, biofeedback. É o próximo passo. A próxima pergunta a ser respondida.