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Diagnóstico tardio da depressão pode prejudicar pacientes

 

Mais de metade dos casos de depressão não são diagnosticados, o que prolonga o sofrimento dos pacientes e reduz suas possibilidades de recuperação em longo prazo, alertou ontem Enric Álvarez, diretor de psiquiatria no hospital Saint Paul, em conferência sobre produtos psicofarmacêuticos realizada no museu CosmoCaixa, em Barcelona, na Espanha.

Parte do problema se deve ao fato de que o sistema de saúde nem sempre diagnostica corretamente os pacientes que chegam com sintomas de depressão, os quais podem ser freqüentemente ambíguos. Mas parte ainda maior do problema se deve ao fato de que as vítimas aceitam resignadamente o seu problema, e eles e seus amigos mais íntimos e familiares não chegam a perceber que o mau humor, as dores nas costas ou de cabeça, os problemas de sono ou a falta de vontade de fazer coisas que costumavam fazer no passado - para mencionar alguns sintomas freqüentes- na verdade são fruto da depressão.

Psiquiatras de outros hospitais de Barcelona concordam com o diagnóstico de Álvares. "Temos um grande problema de deficiência de diagnóstico, e muitas pessoas por isso deixam de receber um tratamento que as ajudaria", apontou Antoni Bulbena, diretor de psiquiatria do hospital Del Mar.

"As vítimas, especialmente as pessoas adultas, tendem a aceitar como natural algo que na verdade é uma doença, e os parentes também aprendem a aceitar que um avô se queixe e diga que não está bem", acrescentou Joan de Pablo, diretor de psiquiatria do hospital Clinic.

Mas não se trata de um problema menor. Estima-se que 15% da população sofra pelo menos um episódio de depressão clínica - o que não é a mesma coisa que a tristeza que alguém sente com a morte de um parente ou um divórcio - ao longo da vida. Por motivos desconhecidos, a enfermidade afeta duas vezes mais mulheres (20%) do que homens (10%). Seu impacto econômico na Espanha é da ordem de 750 milhões de euros ao ano, de acordo com um estudo sobre o custo social dos problemas de saúde mental. E a enfermidade também é a principal causa de suicídios.

Se há tantos casos que passam sem diagnóstico, "isso se deve ao fato de que muitas pessoas têm idéia completamente errônea quanto ao que seja a depressão", diz Álvarez. "Acreditam que seja um estado de tristeza, mas não é assim". E o que é, então? "Trata-se de uma doença no funcionamento químico do cérebro, que afeta os neurotransmissores", ou seja, as pequenas moléculas que estabelecem a comunicação entre os neurônios.

A enfermidade se manifesta por grande número de sintomas, que podem variar de pessoa a pessoa, entre os quais a tristeza. Mas "a tristeza normalmente não é o primeiro sintoma a surgir, e nem o mais importante; às vezes ela é conseqüência e não causa da falha de comunicação entre os neurônios", diz Álvarez.

O sintoma mais importante, segundo o psiquiatra, é "a baixa tolerância ao estresse, ou seja, a sensação de incapacidade de tomar decisões ou enfrentar situações que antes não acarretavam problemas".

Se uma pessoa passa por esse tipo de situação, ou suspeita por outros sintomas que possa estar sofrendo de depressão, os psiquiatras recomendam consulta ao clínico geral. "Em caso de dúvida, consulte", afirma Álvares. "Melhor ir ao médico sem ter nada do que ter alguma coisa e não ir".

Uma depressão não diagnosticada pode se tornar crônica e gerar uma dinâmica sob a qual a pessoa afetada continua em atividade mas não está bem, diz De Pablo, do Clinic. A doença pode se agravar ou, em certos casos, entrar em remissão espontaneamente.

Se a depressão, por outro lado, for identificada e tratada corretamente, 85% dos pacientes se curam. Para que o tratamento seja eficaz, deve se basear em medicamentos antidepressivos que corrijam as falhas na transmissão de sinais neurológicos, explicou Álvarez durante a conferência.

Sinais de alerta
Baixa tolerância ao estresse: uma pessoa saudável se adapta a situações estressantes em seu ambiente graças a um neurotransmissor chamado serotonina. O déficit de serotonina nos deprimidos os torna especialmente vulneráveis ao estresse. O paciente não consegue mais enfrentar situações que no passado não lhe causavam problemas.

Baixa tolerância à dor : a serotonina modula também a percepção de dor no cérebro. Por isso, em pessoas deprimidas o limiar da dor se reduz e a percepção de doenças físicas se torna mais aguda. Problemas físicos freqüentes que uma pessoa saudável supera sem dificuldades, como dores de cabeça ou nas costas, se tornam fonte de problemas graves para os deprimidos.

Alterações no sono : a serotonina também interfere no ritmo biológico do corpo humano, baseado em um ciclo de 24 horas. Por isso, as pessoas deprimidas passam por alterações de sono, tais como insônia (muitas vezes na segunda metade da noite) ou sono pouco repousante (devido a uma mudança no sono profundo). Há ocasiões em que dormem muito mas não se sentem descansadas.

Falta de prazer : a noradrenalina - outro neurotransmissor de presença deficiente nos deprimidos -, é crucial para experimentar sensações de prazer. As pessoas deprimidas deixam de se sentir motivadas com atividades que antes as interessavam, sejam familiares, de trabalho, lúdicas ou sexuais. Em casos graves, perdem o interesse pela vida e têm idéias suicidas.

Transtornos cognitivos : a noradrenalina interfere na aprendizagem, memória e velocidade de processamento da informação no cérebro. Não é incomum que as pessoas deprimidas tenham a sensação de que seu rendimento intelectual é baixo.

 

 


La Vanguardia

21/03/2007 - 11:22

 

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