UC Berkeley Press Release

Terapia eletroconvulsiva e estimulação eletromagnética transcraniana de repetição em um paciente com transtorno esquizoafetivo resistente a tratamento

Rollnik J.D., Seifert J., Huber T.J., Becker H., Panning B., Schneider U. , Emrich H.M. - Comentado

Depression and Anxiety 13: 103-4, 2001

 

A estimulação magnética transcraniana de repetição (EMTr; no original: repetitive transcranial magneticstimulation – rTMS) é uma nova e promissora estratégia e tratamento que está despontando como um instrumento inovador para a terapia biológica psiquiátrica.
Trata-se de uma técnica que começou a ser utilizada em neurologia para o manejo diagnóstico do transtorno de conversão (Puri & Lewis, 1996), e que, nos dias de hoje, é amplamente utilizada como ferramenta diagnóstica para várias afecções do sistema motor.
Em psiquiatria, a EMT tem sido pesquisada como possível método terapêutico para vários transtornos como, por exemplo, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do estresse pós-traumático, transtorno de Tourette e até na esquizofrenia (Greenberg et al., 1997;Grisaru et al., 1998; Ziemann et al., 1997; Abarbanel et al., 1996). Um trabalho interessante foi o de Hoffman et al. (2000), que aplicaram a estimulação magnética em 12 pacientes com esquizofrenia e alucinações auditivas (a uma freqüência de 1 Hz no córtex temporoparietal esquerdo), obtendo uma marcada diminuição das alucinações. Contudo, não há dúvida de que o maior volume
de pesquisa tem sido sobre a utilização da EMT no tratamento dos transtornos depressivos, tanto como tratamento único (no lugar de medicações antidepressivas ou de ECT) como tratamento coadjuvante para a potencialização de medicações antidepressivas (Conca et al., 1996).


No artigo que comentamos, é relatado o primeiro caso no qual foi utilizada a EMTr para um paciente com transtorno esquizoafetivo resistente ao tratamento (de acordo com critérios do DSM-IV). O paciente tinha este diagnóstico havia 6 anos. Foram realizadas aplicações com os parâmetros mais comumente utilizados para o tratamento de depressão (bobina em forma de 8, 20 aplicações diárias, com duração de 2 segundos, freqüência de 20 Hz, e intensidade de 80% do limiar motor, por duas semanas, excluindo fins de semana). Durante as duas semanas seguintes foram feitas aplicações “simuladas” (“sham”), que correspondem ao placebo para as medicações, e, em seguida, foram feitas mais duas semanas de tratamento “ativo”. A avaliação do paciente foi realizada de forma cega, utilizando-se a BPRS, a escala de Beck e o STAI (State
Trait Anxiety Inventory). Quatro semanas após a última aplicação ativa de EMTr, o paciente passou a receber aplicações de ECT (12 aplicações bilaterais, com localização bitemporal dos
eletrodos, três vezes por semana, com aparelho Thymatron, intensidade de 40% a 60%).
O escore da BPRS diminuiu de 45 para 31 pontos durante o primeiro tratamento ativo com EMTr, seguido de um aumento moderado durante o tratamento “simulado”. Após o segundo tratamento ativo, houve nova redução do escore (de 40 para 36 pontos). A escala de Beck e o STAI permaneceram nos níveis basais durante a EMTr.
Após a ECT, houve uma pequena redução dos escores da BPRS (39 para 38), mas a escala de Beck e o STAI indicaram uma melhora muito significativa.

Em resumo, a EMTr demonstrou uma melhora dos sintomas psicopatológicos mais que uma melhora do humor ou da ansiedade neste paciente. É um artigo interessante, pois mostra o contrário do que atualmente se acredita. A maior parte das pesquisas é feita para o tratamento de transtornos do humor, especialmente depressão. Contudo, neste caso o humor não foi alterado, mas sim a psicopatologia psicótica. A grande limitação do estudo está no fato de ser apenas um caso isolado, sendo impossível tirar conclusões de forma mais generalizada. No entanto, abre caminho para futuros estudos em transtornos psicóticos.

A utilização da EMTr na psiquiatria ainda está no início e ainda há muito para ser pesquisado antes que seja usada na prática clínica diária.