Existem pessoas, não importa de que classe social, que vagam pelos consultórios e clínicas do mundo inteiro sem que ninguém seja capaz de lhes dizer qual a verdadeira origem de seus males. A pessoa passa por uma série interminável de consultas e exames, acaba entrando nas estatísticas de certas doenças, mas não tem seu problema resolvido. Três quartos das pessoas com distúrbio mental não estão onde deveriam estar: no psiquiatra ou no psicólogo. Estão nas mãos do cardiologista, do neurologista ou de outro especialista qualquer. É uma multidão que não trata a sua doença de forma adequada, pois um mau diagnóstico pode levar essas pessoas a conviver com enormes desconfortos, que acabam se estendendo à toda a sua família.
Quais os sintomas de uma crise de pânico?
Como se descreve acima, os sintomas de uma crise de pânico aparecem subitamente, sem nenhuma causa aparente. Eles podem incluir:
• Palpitações (o coração “dispara”)
• Dores no peito
• Tontura, atordoamento, náusea.
• Dificuldade para respirar
• Sensação de “formigamento” ou de fraqueza nas mãos
• Calafrios ou ondas de calor
• Sensação de “estar sonhando” ou distorções de percepção da realidade
• Terror - sensação de que algo inimaginavelmente horrível está prestes a acontecer e de que se está impotente para evitar tal acontecimento
• Medo de perder o controle e fazer algo embaraçoso
• Medo de morrer
Uma crise de pânico dura caracteristicamente vários minutos e é uma das situações mais angustiantes que podem ocorrer a alguém. A maioria das pessoas que tem uma crise terá outras. Quando alguém tem crises repetidas ou se sente muito ansioso, com medo de ter outra crise, diz-se que tem distúrbio do pânico.
O que é distúrbio do pânico?
Distúrbio do pânico é um problema sério de saúde. Atualmente 2 a 4% da população mundial sofre deste mal. Este distúrbio é nitidamente diferente de outros tipos de ansiedade, caracterizando-se por crises súbitas, sem fatores desencadeantes aparentes e, freqüentemente, incapacitantes.
Depois de ter uma crise de pânico - por exemplo, enquanto dirige, fazendo compras em uma loja lotada ou dentro de um elevador - a pessoa pode desenvolver medos irracionais (chamados fobias) destas situações e começar a evitá-las. Gradativamente o nível de ansiedade e o medo de uma nova crise podem atingir proporções tais, que a pessoa com distúrbio do pânico pode se tornar incapaz de dirigir ou mesmo pôr o pé fora de casa. Neste estagio, diz-se que a pessoa tem distúrbio do pânico com agorafobia. Desta forma, o distúrbio do pânico pode ter um impacto tão grande na vida cotidiana de uma pessoa como outras doenças mais graves - a menos que ela receba um tratamento eficaz.
O distúrbio do pânico é grave?
Sim, o distúrbio do pânico é real e potencialmente incapacitante, mas pode ser controlado com tratamentos específicos. Por causa dos seus sintomas desagradáveis, ele pode ser confundido com uma doença cardíaca ou outra doença grave. Freqüentemente as pessoas procuram um pronto-socorro quando tem a crise de pânico e podem passar desnecessariamente por extensos exames médicos para excluir outras doenças.
As pessoas que sofrem deste mal costumam fazer uma verdadeira "via-crucis" a diversos especialistas médicos ("doctor shopping") e após uma quantidade exagerada de exames complementares recebem, muitas vezes, o patético diagnóstico do "nada", o que aumenta sua insegurança e seu desespero. Os médicos em geral tentam confortar o paciente em crise de pânico, fazendo-o entender que não está em perigo. Mas estas tentativas podem às vezes piorar as dificuldades do paciente: se o médico usar expressões como “não é nada grave”, “é um problema de cabeça” ou “não há nada para se preocupar”. Por vezes esta situação dramática é reduzida a termos evasivos como: estafa, nervosismo, stress, fraqueza emocional ou problema de cabeça. Isto pode produzir uma impressão incorreta de que não há problema real e de que não existe tratamento ou de que este não é necessário
Qual o tratamento para o distúrbio do pânico?
Graças a estudos, há uma variedade de tratamentos, inclusive diversos medicamentos e também tipos específicos de psicoterapia. Freqüentemente, a associação de psicoterapia e medicamentos produz bons resultados. A melhora, em geral, ocorre em pouco tempo - cerca de 6 a 8 semanas. Assim, o tratamento adequado do distúrbio do pânico pode evitar as crises de pânico ou, pelo menos, reduzir substancialmente a intensidade e freqüência das crises - trazendo alivio significativo para 70 a 90 por cento das pessoas com distúrbio do pânico.
Adicionalmente, pessoas com distúrbio do pânico podem necessitar de tratamento para outros problemas emocionais. A depressão tem sido freqüentemente relacionada ao distúrbio do pânico, assim como o alcoolismo e a dependência a drogas. Estudos recentes sugerem também que tentativas de suicídio são mais freqüentes em pessoas com distúrbio do pânico. Felizmente, tais problemas associados ao distúrbio do pânico podem ser efetivamente superados, assim como o próprio distúrbio do pânico. Infelizmente, muitas pessoas com distúrbio do pânico não procuram ou não recebem tratamento. Para incentivar o tratamento, é necessário maior divulgação a respeito deste distúrbio.
O que acontece se o distúrbio não for tratado?
O distúrbio do pânico tende a continuar por meses ou anos. Embora, caracteristicamente, ele se inicie no começo da vida adulta, em algumas pessoas os sintomas podem aparecer antes ou depois deste período. Se não forem tratados, podem se agravar a ponto de a vida do paciente ser profundamente prejudicada pelas crises de pânico ou pelas tentativas de evitá-las ou ocultá-las. De fato, muitas pessoas têm problemas com os amigos ou a família ou perdem o emprego enquanto lutam contra o distúrbio do pânico. Pode haver períodos de melhora espontânea do distúrbio, mas, em geral, ele não desaparece, a menos que a pessoa receba um tratamento especifico.
O que causa o distúrbio do pânico?
De acordo com uma das teorias, o sistema de “alerta” normal do organismo - o conjunto de mecanismos físicos e mentais que permite que uma pessoa reaja a uma ameaça - tende a ser desencadeado desnecessariamente na crise de pânico, sem haver perigo iminente. Os especialistas não sabem exatamente por que isto acontece ou por que algumas pessoas são mais susceptíveis que outras. Constatou-se que o distúrbio do pânico ocorre com maior freqüência em algumas famílias, e isto pode significar que há uma participação importante de um fator hereditário (genético) na determinação de quem desenvolverá o distúrbio. Entretanto, muitas pessoas que desenvolvem este distúrbio não têm nenhum antecedente familiar.
Freqüentemente, as primeiras crises são desencadeadas por doenças físicas, uma situação de “stress” acentuado ou até mesmo por medicamentos que aumentam a atividade da região do cérebro envolvida em reações de medo.
Qual é a população atingida?
As pessoas que tem o distúrbio do pânico (DP), em sua maioria, são pessoas jovens (faixa etária de 21 a 40 anos), que se encontram na plenitude de suas vidas profissionais. O perfil da personalidade das pessoas que sofrem do DP, costuma apresentar aspectos em comum: geralmente são pessoas extremamente produtivas a nível profissional, costumam assumir uma carga excessiva de responsabilidades e afazeres, são bastante exigentes consigo mesmos, não convivem bem com erros ou imprevistos, têm tendência a se preocuparem excessivamente com problemas cotidianos, alto nível de criatividade, perfeccionismo, excessiva necessidade de estar no controle e de aprovação, auto-expectativas extremamente altas, pensamento rígido, competente e confiável, repressão de alguns ou todos os sentimentos negativos (os mais comuns são, o orgulho e a irritação), tendência a ignorar as necessidades físicas do corpo, entre outras. Essa forma de ser acaba por predispor estas pessoas a situações de stress acentuado, fato este que pode levar ao aumento intenso da atividade de determinadas regiões do cérebro desencadeando assim um desequilíbrio bioquímico e conseqüentemente o aparecimento do DP.
Vale ressaltar ainda que alguns medicamentos como anfetaminas (usados em dietas de emagrecimento) ou drogas (cocaína, maconha, crack, ecstasy, etc), podem aumentar a atividade e o medo promovendo alterações químicas que podem levar ao DP.
Para as pessoas que não tem, e para as que possam vir a conviver com o problema:
O DP não é loucura, nem "frescura". Infelizmente é comum que os distúrbios psíquicos sejam interpretados como simples fraqueza de caráter. O melhor jeito para conviver com uma pessoa que passou pelo DP é compreender pelo que a pessoa passa; fazendo com que essa pessoa saiba que você entende o que se passa com ela, isso irá tranquilizá-la, trazendo bem-estar, pois é bem difícil se ter um "ataque", perante uma pessoa ou ambiente que conheça o problema, junto com um "tratamento", preferencialmente, tratado por um psiquiatra . Pois os que sofrem com o transtorno do pânico são ótimas companhias, devido a sua sensibilidade apurada, pois uma experiência ruim algumas vezes frutifica em crescimento interior. E sempre mantenha essa pessoa normalmente convivendo com suas atividades, percebendo as suas limitações e não "forçando nenhuma barra". Aos poucos a vida volta à normalidade.
Onde procurar ajuda?
Devido às particularidades mencionadas na questão sobre “tratamento”, o distúrbio do pânico deve, preferencialmente, ser tratado por um psiquiatra .
Para obter informações sobre tratamento psiquiátrico, você pode se dirigir a:
• Hospitais universitários
• Centros de saúde mental da comunidade
• Hospitais psiquiátricos públicos
• Serviços psiquiátricos de hospitais gerais
• Associações profissionais como sociedades médicas ou associações de psiquiatria.
Texto atualizado, traduzido e adaptado da publicação DHHS do National Institute of Mental Health – USA por:
Dr. Roni Broder Cohen
Especialista da AMB/ ABP, TMS pela Harvard Medical School
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